sábado, 23 de junho de 2007

COMO FAZER LEITURAS DRAMATIZADAS DE TEXTOS - ANITA MALUFFE

Quem já assistiu a uma leitura dramática de um texto certamente teve a impressão de que sua realização é muito simples. No entanto, para que seja uma boa leitura e realmente transmita a intenção do texto, atraia público e produza um debate posterior, é preciso que seja muito bem organizada. Aos grupos, entidades e associações que desejam realizar leituras dramáticas, tentaremos passar os pontos mais importantes para um bom resultado do evento:
Seleção de textos - Tudo começa pela seleção dos textos. Devem ser teatrais e de qualidade. Textos literários jamais produzem boas leituras. Os temas devem oferecer uma estrutura dramática e, de preferência, apresentar temáticas que interessem à comunidade. Caso sejam selecionados textos para um ciclo de leituras, é muito interessante mesclar peças de autores consagrados inéditos, nacionais e para para poder traçar parâmetros comparativos. O elo entre elas deve ser a qualidade. A Sociedade Lítero Dramática Gastao Tojeiro, além das leituras de textos inéditos de autores nacionais periodicamente tem realizado ciclos específicos, como de clássicos da dramaturgia moderna universal. Atualmente, estamos promovendo o ciclo "A comédia através dos tempos”, que até o final do ano, nas últimas segundas-feiras do mês estaremos lendo os autores mais representativos no gênero, a fim de estudar e discutir a comédia universal e seus grandes comediógrafos.

Cronograma - Se for realizado um ciclo de leituras, é importante traçar um cronograma, sejam elas apresentadas durante uma semana, um mês etc. Nossos ciclos de leituras, por exemplo, têm transcorrido de março a dezembro com cronograma para, no mínimo, seis meses de leituras.

Direção - A escolha do diretor deve ser muito cuidadosa porque dirigir leituras é muito diferente de dirigir montagens. A leitura exige do diretor uma atenção especial para que possa passar, apenas por palavras e poucos gestos, a intenção do autor. Já aconteceu de bons diretores, acostumados com efeitos especiais e montagens exuberantes, atrapalharem-se quando na direção de uma leitura pública. Nas leituras, muitas vezes as rubricas e algumas sutis adaptações são imprescindíveis para a compreensão do texto.
Elenco - Os atores não têm que ser selecionados necessariamente pelo tipo físico porque o importante não é o que se vê, mas sim o que se ouve. É quase um processo de radionovelas, em que as emoções são passadas apenas pela voz. Leituras, portanto, requerem ensaios. Somente atores muito experientes conseguem captar o texto e transmitir essa emoção numa primeira leitura. Os demais devem ensaiar, pontuar as pausas, as respirações etc.

Rubricas - Apesar de extremamente importantes na leitura e auxiliarem na compreensão do texto, as rubricas devem ser selecionadas para não interromper o ritmo da peça. Rubricas excessivas comprometem o desenvolvimento do texto. É preciso um perfeito equilíbrio.
Ritmo - Leituras devem ser ágeis, mais ágeis que a representação porque não tem movimento.
Objetos cênicos - Devem ser evitados objetos nas mãos dos atores porque como eles estão segurando o texto estes só atrapalham.

Luz e som - Uma leitura pode perfeitamente ser realizada sem efeitos de luz e som. Em nossas apresentações, os efeitos de luz são bem simples, limitando-se a poucos refletores, e o som é obtido por um gravador com amplificadores.

Programa - Quando a leitura é pública, um programinha simples feito em computador, em preto e branco: é interessante por registrar o evento. Costumamos colocar a ficha técnica da peça e um "curriculum" resumido do autor.

Leitura propriamente dita – Antes de iniciar a leitura, o ideal é fazer uma apresentação do autor, do diretor e do elenco. Se o autor é conhecido, fazer uma exposição sobre seus trabalhos, falar sobre o período no qual a peça foi escrita, qual sua importância histórica e comprometimento social, onde foi apresentada anteriormente e outras informações consideradas interessantes e enriquecedoras.

Debates - Após a leitura, os debates são importantes, principalmente quando o texto é inédito, porque apontam as falhas e oferecem ao autor a oportunidade de melhorá-lo. Nossa experiência demonstrou que o debate enriquece o universo do autor e dos participantes. Muitos dos autores, ao perceberem falhas dos textos, acabaram por reescrevê-los, e peças medianas tornaram-se peças boas que inclusive foram montadas e obtiveram sucesso comercial. Se o autor for consagrado, o debate é útil para colocar em discussão a obra, sua importância e o que ele deseja transmitir.