quinta-feira, 12 de julho de 2007

ADEGA DOS ANJOS E HISTÓRIA DE O

Adega dos Anjos é um texto que para construí-lo, busquei diversas referências. Além da vida de santos, pesquisei o erotismo, o sadismo e o masoquismo. Segue abaixo, um trecho de História de O, outra fonte de inspiração.



"Enquanto Colette fazia O sentar-se na borda do estrado, que não tinha degraus no meio, pois estes estavam localizados à direita e à esquerda das colunas, as duas outras moças fechavam a porta-janela, após terem fechado ligeiramente as persianas. O percebeu, surpresa, que era uma janela dupla, e Anne-Marie, disse, rindo: "É para que não a ouçam gritar; as paredes são forradas de cortiça, não se ouve nada do que acontece aqui. Deite-se". Ela segurou-a pelos ombros, colocou-a sobre o feltro vermelho e depois puxou-a um pouco para a frente; as mãos de O agarravam a borda do estrado, onde Ivonne as amarrou a uma argola, ficando os quadris suspensos no vazio. Anne-Marie fez com que ela dobrasse os joelhos junto ao peito, e, em seguida, O sentiu que as pernas, assim dobradas, eram repentinamente esticadas e puxadas na mesma direção: correias que passavam pelos braceletes colocados nos tornozelos amarravam-nos às colunas, mais alto que a cabeça. Ela se encontrava exposta de tal maneira, entre as colunas, que a única coisa que se podia ver dela era a fenda do ventre e das nádegas, escandalosamente escancarada. Anne-Marie acariciou o interior das coxas. "Este lugar do corpo é onde a pele é mais delicada", disse, "não se deve estragá-la. Vá suavemente, Colette." Colette estava de pé acima dela, com um pé de cada lado da sua cintura, e O via, através da ponte que formavam as pernas morenas, as tiras do chicote que tinha na mão. Aos primeiros golpes que a queimaram sob o ventre, O gemeu. Colette passava da direita para a esquerda, parava, recomeçava. O debatia-se com toda a sua força; parecia que as correias a rasgavam. Não queria suplicar, não queria pedir misericórdia. Mas Anne-Marie tinha resolvido levá-la até esse ponto. "Mais rápido e mais forte", disse a Colette. O obstinou-se, mas em vão. Um minuto mais tarde, cedia aos gritos e às lágrimas, enquanto Anne-Marie acariciava seu rosto. "Mais um instante apenas", disse ela. "Cinco minutos apenas. São vinte e cinco. Colette, pare aos trinta, quando lhe avisar." Mas O berrava; não, por piedade, não, não podia mais, não, não podia nem mais um segundo suportar o suplício. Teve que sofrê-lo, no entanto, até o fim, e Anne-Marie sorriu-lhe quando Colette deixou o estrado. "Agradeça-me", disse Anne-Marie, e O agradeceu-lhe. Sabia por que Anne-Marie fizera questão de mandar chicoteá-la antes de qualquer coisa. Que uma mulher fosse igualmente cruel e mais implacável do que um homem, nunca tinha duvidado. Mas O acreditava que Anne-Marie procurava menos manifestar seu poder do que estabelecer entre ela e O uma cumplicidade. O nunca tinha compreendido, mas havia acabado por reconhecer, como uma verdade indiscutível e importante, a confusão contraditória e constante de seus sentimentos: amava a idéia do suplício, quando o sofria, trairia o mundo inteiro para lhe escapar, e após terminá-lo sentia-se feliz por tê-lo sofrido, tanto mais feliz quanto mais cruel e mais longo tivesse sido. (...)"

(In A história de O. Réage, Pauline, Circulo do Livro, SP, s/d)

ADEGA DOS ANJOS E SANTA TERESA D'ÁVILA

"Adega dos Anjos", novo espetáculo do grupo CAD, está sendo um trabalho muito desafiador. Estamos a todo o vapor com os ensaios deste trabalho que considero o mais difícil de toda a minha carreira. São três tramas paralelas que se entrelaçam. Poder, incesto e fanatismo religioso são os temas abordados.
O texto foi inspirado em fragmentos da literatura erótica do século XVIII. Enfim, não entregarei de cara como será a montagem. Isso vcs vão conhecer com o passar do tempo e qdo o processo estiver terminado.
Segue abaixo a biografia de Santa Teresa D'Ávila. Foi através desta santa que me inspirei para construir Valentine, uma das personagens centrais do espetáculo.


Êxtase de Santa Teresa D'Ávila



Bernini (1598-1680)
ÊXTASE SANTA TERESA D’ÁVILA, escultura realizada entre 1645 e 1652, em mármore e bronze dourado.
Encontra-se na capela Cornaro, igreja de Santa Maria Vitória, Roma.
Esta escultura de Bernini representa o êxtase místico de Santa Teresa de Jesus, ferida por uma seta de amor divino disparada por um anjo (que não nos deixa de lembrar Cupido). Nela podemos observar o rico jogo de mármores e dos dourados, as inúmeras linhas ondeantes e de fuga, o corpo da santa e a seta em diagonais opostas. Tal como a pintura, a escultura barroca é plena de sensualidade e movimento

VIDA DE SANTA TERESA
Infância
Teresa de Cepeda e Ahumada nasceu na província de Ávila, Espanha, numa família da baixa nobreza. Seus pais chamavam-se Alonso Sánchez de Cepeda e Beatriz Dávila e Ahumada. Teresa refere-se a eles com muito carinho. Alonso teve três filhos de seu primeiro casamento. Beatriz deu-lhe outros nove.
Aos sete anos, gosta muito de ler histórias dos santos. Seu irmão Rodrigo tinha quase a sua idade, por isto costumavam brincar juntos. As duas crianças viviam pensando na eternidade, admiravam a coragem dos santos na conquista da glória eterna. Achavam que os mártires tinham alcançado a glória muito facilmente e decidiram partir para o país dos mouros com a esperança de morrer pela fé. Assim sendo, fugiram de casa, pedindo a Deus que lhes permitisse dar a vida por Cristo. Em Adaja encontraram um dos tios que os devolveu aos braços da aflita mãe. Quando esta os repreendeu, Rodrigo colocou toda a culpa na irmã. Com o fracasso de seus planos, Teresa e Rodrigo decidiram viver como ermitães na própria casa e construíram uma cela no jardim, sem nunca conseguir terminá-la. Desde então, Teresa amava a solidão.

Juventude
A mãe de Teresa faleceu quando esta tinha quatorze anos: "Quando me dei conta da perda que sofrera, comecei a entristecer-me. Então me dirigi a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei com muitas lágrimas que me tomasse como sua filha". Quando completou quinze anos, o pai levou-a a estudar no Convento das Agostinianas de Ávila, para onde iam as jovens de sua classe social.
Um ano e meio mais tarde, Teresa adoeceu e seu pai a levou para casa. A jovem começou a pensar seriamente na vida religiosa que a atraia por um lado e a repugnava por outro. O que a ajudou na decisão foi a leitura das "Cartas" de São Jerônimo, cujo fervoroso realismo encontrou eco na alma de Teresa. A jovem comunica ao pai que desejava tornar-se religiosa, mas este pediu-lhe para esperar que ele morresse para ingressar no convento. Temendo fraquejar em seu propósito, a santa foi em segredo visitar a sua amiga Joana Juárez, que era religiosa no convento Carmelita da Encarnação, em Ávila, com a intenção de não voltar para casa.
Vida religiosa
Teresa ficou no convento da Encarnação. Tinha 20 anos. Seu pai, ao vê-la tão decidida, deixou de opor-se à sua vocação. Um ano depois fez a profissão dos votos. Pouco depois, piorou de uma enfermidade que começara a molestá-la antes de professar. Seu pai a retirou do convento. A irmã Joana Suárez acompanhou Teresa para ajudá-la. Os médicos, apesar de todos os tratamentos, deram-se por vencidos e a enfermidade, provavelmente impaludismo, se agravou. Teresa conseguiu suportar aquele sofrimento, graças a um livrinho que lhe fora dado de presente por seu tio Pedro: "O terceiro alfabeto espiritual", do Padre Francisco de Osuna. Teresa seguiu as instruções da pequena obra e começou a praticar a oração mental. Finalmente, após três anos, ela recuperou a saúde e retornou ao Carmelo.
Sua prudência, amabilidade e caridade conquistavam a todos. Segundo o costume dos conventos espanhóis da época, as religiosas podiam receber todos os visitantes que desejassem, a qualquer hora. Teresa passava grande parte de seu tempo conversando no locutório. Isto a levou a descuidar-se da oração mental. Vivia desculpando-se dizendo que suas enfermidades a impediam de meditar.
Pouco depois da morte de seu pai, o confessor de Teresa fê-la ver o perigo em que se achava sua alma e aconselhou-a a voltar à prática da oração. Desde então, a santa jamais a abandonou. No entanto, ainda não se decidira a entregar-se totalmente a Deus nem a renunciar totalmente às horas que passava no locutório trocando conversas e presentes com os visitantes. Curioso notar que, em todos estes anos de indecisão no serviço de Deus, Santa Teresa jamais se cansava de prestar atenção aos sermões, "por piores que fossem".
Cada vez mais convencida de sua indignidade, Teresa invocava com freqüência os grandes santos penitentes, Santo Agostinho e Santa Maria Madalena, aos quais estão associados dois fatos que foram decisivos na vida da santa. O primeiro foi a leitura das "Confissões" de Santo Agostinho. O segundo foi um chamamento à penitência que ela experimentou diante de um quadro da Paixão do Senhor: "Senti que Santa Maria Madalena vinha em meu socorro... e desde então muito progredi na vida espiritual". Sentia-se muito atraída pelas imagens de Cristo ensangüentado na agonia. Certa ocasião, ao deter-se sob um crucifixo muito ensangüentado, perguntou: "Senhor, quem vos colocou aí?" Pareceu-lhe ouvir uma voz: "Foram tuas conversas no parlatório que me puseram aqui, Teresa". Ela chorou muito e a partir de então não voltou a perder tempo com conversas inúteis e nas amizades que não a levavam à santidade.
As Carmelitas, como a maioria das religiosas, desde os princípios do século XVI, já haviam perdido o primeiro fervor. Já vimos que os locutórios dos conventos de Ávila eram uma espécie de centro de reunião para damas e cavalheiros de toda a cidade. As religiosas saíam da clausura pelo menor pretexto. Os conventos eram lugares ideais para quem desejava uma vida fácil e sem problemas. As comunidades eram muito numerosas. O Convento da Encarnação possuía 140 religiosas.

Reformadora e fundadora
Já que esta situação era aceita como normal, as religiosas não se davam conta de que seu modo de vida estava muito distante do espírito de seus fundadores. Assim, quando uma sobrinha de Santa Teresa, também religiosa no convento da Encarnação, deu-lhe a idéia de fundar uma comunidade reduzida. A Santa, que já estava há 25 anos naquele convento, resolveu colocar em prática o plano de fundar um convento reformado.
São Pedro de Alcântara, São Luís Beltrán e o bispo de Ávila, aprovaram o projeto. O provincial dos Carmelitas, Pe. Gregório Fernández, autorizou Teresa a colocar seu plano em prática. Contudo, a execução do projeto causou muitos comentários e o provincial retirou a permissão. Santa Teresa foi criticada pelos nobres, pelos magistrados, pelo povo e até por suas próprias irmãs. Apesar disso tudo, o dominicano Pe. Ibañez, incentivou Teresa a prosseguir seu projeto.
São Pedro de Alcântara, Dom Francisco de Salcedo e o Pe. Gaspar Daza, conseguiram que o bispo tomasse a causa da fundação do novo convento para si. Eis que chega de Roma a autorização para se criar a nova casa religiosa, o que ocorreu no dia de São Bartolomeu, em 1562. Durante a missa receberam o véu a sobrinha da santa e outras três noviças.
A inauguração causou grande reboliço em Ávila. Nesta mesma tarde, a superiora do convento da Encarnação mandou chamar Teresa e a santa a procurou com certo temor, pensando que iam encarcerá-la. Teve que explicar sua conduta à superiora e ao Pe. Angel de Salazar, provincial da Ordem. A Santa reconhece que não faltava razão a seus superiores por estarem desgostosos. Mesmo assim, o Pe. Salazar lhe prometeu que ela poderia retornar ao convento de São José logo que se acalmassem os ânimos da população.
A fundação não era bem vista em Ávila, porque as pessoas desconfiavam das novidades e temiam que um convento sem recursos se transformasse em um peso para a cidade. O prefeito e os magistrados teriam mandado demolir o convento, se não tivessem sido dissuadidos pelo dominicano Bañez. Santa Teresa não perdeu a paz em meio às perseguições e prosseguiu colocando a obra nas mãos de Deus.
Francisco de Salcedo e outros partidários à fundação enviaram à corte um sacerdote que defendesse a causa diante do rei. Os dois dominicanos Báñez e Ibáñez acalmaram o bispo e o provincial. Pouco a pouco a tempestade foi-se acalmando. Quatro meses depois, o Pe. Salazar permitiu que Santa Teresa e suas quatro religiosas retornassem ao convento de São José.
Teresa estabeleceu em seu convento a mais estrita clausura e o silêncio quase perpétuo. A comunidade vivia na maior pobreza. As religiosas vestiam hábitos toscos, usavam sandálias em vez de sapatos (por isso foram chamadas "descalças") e eram obrigadas a abstinência perpétua de carne. A fundadora, a princípio, não aceitou comunidades com mais de treze religiosas. Mais tarde, nos conventos que possuiam alguma renda, aceitou que residissem vinte monjas.
A grande mística Teresa não descuidava das coisas práticas. Sabia utilizar as coisas materiais para o serviço de Deus. Certa ocasião disse: "Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça de Deus, uma fortaleza; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma potência".
Encontrou certo dia em Medina del Campo dois frades carmelitasSão João da Cruz.
Aproveitando a primeira oportunidade, ela fundou um conventinho de frades em Duruelo em 1568. Em 1569 fundou o de Pastrana. Em ambos reinava a maior pobreza e austeridade. Santa Teresa deixou o resto das fundações de conventos de frades a cargo de São João da Cruz. Depois de muitas lutas, incompreensões e perseguições, obteve de Roma uma ordem que eximia os Carmelitas Descalços da jurisdição do Provincial dos Calçados.
Em 1580, quando estabeleceu-se a separação entre os dois ramos do Carmelo, Santa Teresa tinha 65 anos e sua saúde estava muito debilitada. Nos últimos anos de sua vida fundou outros dois conventos. As fundações da Santa não eram simplesmente um refúgio das almas contemplativas, mas também uma espécie de reparação pelos destroços causados nos mosteiros pelo protestantismo, principalmente na Inglaterra e na Alemanha.
que estavam dispostos a abraçar a Reforma: Antonio de Jesús de Heredia, superior, e Juan de Yepes, que seria o futuro

A morte
Na fundação do convento de Burgos, que foi a última, as dificuldades não diminuiram. Em julho de 1582, quando o convento já ia com suas obras adiantadas, Santa Teresa tinha intenção de retornar a Ávila, mas viu-se forçada a mudar seus planos para ir a Alba de Tormes visitar a duquesa Maria Henríquez. A Beata Ana de São Bartolomeu afirmou que a viagem não estava bem programada e que a Santa estava tão fraca que desmaiou no caminho. Certa noite só puderam comer alguns figos. Chegando a Alba, Teresa teve que deitar-se imediatamente. Três dias depois, disse à Beata Ana de São Bartolomeu: "Finalmente, minha filha, chegou a hora de minha morte". O Pe. Antonio de Heredia ministrou-lhe os últimos sacramentos. Quando o mesmo padre levou-lhe o viático, a Santa conseguiu erguer-se do leito e exclamou: "Oh, Senhor, por fim chegou a hora de nos vermos face a face!" Ela morreu às 9 horas da noite de 4 de outubro de 1582. Exatamente no dia seguinte entrou em vigor a reforma gregoriana do calendário, que suprimiu dez dias, de modo que a festa da santa foi fixada, mais tarde, para o dia 15 de outubro. Foi sepultada em Alba de Tormes, onde repousam suas relíquias.
Teresa é uma das personalidades da mística católica de todos os tempos. Suas obras, especialmente as mais conhecidas (Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Moradas e Fundações), contém uma doutrina que abraça toda a vida da alma, desde os primeiros passos até à intimidade com Deus no centro do Castelo Interior. Suas cartas no-la mostram absorvida com os problemas mais triviais. Sua doutrina sobre a união da alma com Deus é bem firmada na trilha da espiritualidade carmelita, que ela tão notavelmente soube enriquecer e transmitir, não apenas a seus irmãos, filhos e filhas espirituais, mas à toda Igreja, à qual serviu fiel e generosamente. Ao morrer sua alegria foi poder afirmar: "Morro como filha da Igreja ". Foi canonizada em 1662. No dia 27 de setembro de 1970, o papa Paulo VI conferiu-lhe o título de Doutora da Igreja. Santa Teresa de Ávila é unanimemente considerada um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Mesmo ateus e livres-pensadores são obrigados a enaltecer sua viva e arguta inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. O grande Doutor da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório, a tinha em tão alta estima que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho espiritual, enaltecendo-a em muitos de seus escritos
Sua festa é comemorada no dia 15 de outubro.